domingo, 6 de fevereiro de 2011

         BAINHAS E BOTÕES

            O currículo escolar incluía, principalmente para as alunas, aprender a fazer uma bainha numa roupa, a pregar botões, a fazer detalhes bordados em pequenas toalhas para ornamentar bandejas, enfeitar prateleiras – o ponto aberto – sei lá se era assim que se chamava.
            Como me movo pelas lembranças, a gaveta onde estão estes detalhes, está empoeirada e só relances aparecem para descrever.
            Pois bem, eram as aulas de economia doméstica dadas pela professora Ida Boabaid Brina – era assim o nome dela? – e nos ensinava até a decorar um caixote pra servir de mesa ou prateleira.
            Os bordados em toalhinhas imaculadamente brancas e sem aparecer tranças e nós do lado avesso, valiam ponto máximo.
            As alunas se esmeravam em apresentar seus trabalhos que ao final do ano eram mostrados na exposição de trabalhos manuais.
            Aprendia-se a economizar na comida, a utilizar sobras do almoço, a transformar uma xícara de arroz em deliciosos bolinhos, que até hoje curto muito.
            Um caderno com capa colorida e a infalível etiqueta era organizado para as aulas de economia doméstica.
            Linhas, pontos, carretéis, agulhas eram levados nos dias das aulas e cada qual teria que ter em ordem seu material.
            Embora não tenha sido muito chegada a estas prendas, pois preferia ficar a ler os romances açucarados de M.Delly, sei fazer a bainha de uma calça pra não passar vergonha, mas confesso, não me ligo muito nisso, não.
            Até que na cozinha faço algo que as pessoas possam comer sem indigestão, mas não vivo atrás de receitas de bolos, de pratos salgados.
            Bom garfo, sempre fui,  mas para ir pra cozinha por prazer e inventar pratos, hum, passem ao largo, por favor, ou ajudem quem tiver boas ideias pois a autora destas linhas foi uma aluna de notas médias na disciplina de economia doméstica, notas máximas porém em Inglês, Francês, Literatura Portuguesa (não a gramática!), mas cozinha...nã nã não!
            Ah, pregar botões! O cuidado para não se perder o botão que caísse de um casaco e a linha na cor correspondente, que desastre, mas ao fim tudo dava certo e o botão ficava até mais firme.
            Com 10-11 anos – nos anos 50 (do século passado, claro), a indústria têxtil ainda não havia dado o boom como há hoje em dia em que a malha é artigo descartável, como uma caixa de leite vazia (se bem que esta se recicla), mas uma camiseta depois de rasgada vai servir de pano de chão, pois não há como cerzir os furinhos que ocorrem com o uso e sucessivas lavações, a não ser que se coloquem adesivos coloridos ou fuxicos, pedrinhas etc para disfarçar e poder usar a camiseta por mais tempo.
            A modernidade, a mudança constante da moda não nos obriga, hoje em dia, a procurar aprender a pregar botões nem a fazer bainhas.
            Então, posso continuar a ler meus romances, a colocar no papel minhas lembranças revivendo os tempos do ginásio em que a prof. Ida se esmerava em contar que conseguia decorar sua casa até com toalhinhas feitas de papel picotado como se fazia com os corações do Pão-por-Deus, não tem?
            E assim, passou-se o ginásio, o que aprendi deu pro gasto, os tempos mudaram, a indústria está sempre se inovando e nós ficamos aqui a prosear sobre o tempo em que para uma moça se casar teria que saber fazer bainha e pregar botões, além de ser mestra em utilizar receitas de bolos e salgados e, de quebra, ser mãe. Ufa!!!
            Passei ao largo de tudo isso, digo com toda sinceridade que não tenho vocação para dona-de-casa, embora as minhas coisas estejam organizadas, mas em matéria de bainhas e botões, coitados dos namorados se esperavam isso de mim, estavam ferrados.
            A vida nos ressarcirá aquilo que investimos.
            Felizmente, no meu caso, me deu o dom da escrita, de colocar no papel as histórias, imaginadas ou não, e poder assim entreter os amigos que me lêem ou então se não quiserem perder seu tempo a ler memórias, que me ajudem nas receitas e me digam se aprenderam ou não a fazer bainhas e a pregar botões.
Maura Soares
Curitiba, aos 06 de fevereiro de 2011, 05.55h, horário de verão.

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