quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

         COISAS  DA MADRUGADA

            O sereno molhava a vidraça deixando certa umidade no ar. Ela levantou, foi à janela, olhou a rua na madrugada. Nada.
            Ninguém  a passar.
            Seu corpo doía da noite mal dormida. O dia anterior havia sido de cansaço.
            Muito cansaço.
            Sem forças para empreender qualquer coisa, havia se deitado, mas a noite fora povoada de sonhos.
            Sonhos que desejava fossem verdadeiros, mas apenas sonhos que se esvaíram do pensamento quando ela, em um movimento,  acordou.
            O relógio da cabeceira marcava três horas.
            - Não acredito que tenha dormido tão pouco, pensou.
            No entanto, não fez disso uma preocupação. Pensou no que a fizera acordar-se.
            Ah, o sonho.
            Relaxou seus músculos e recordou.
            O lugar era silencioso, uma música suave tocava no ambiente de um lugar qualquer da parede, controlado por alguém.
            Ela estava em pé perto da cama que não era a sua, não sabia dizer qual.
            No leito, um homem repousava, de lado, com um braço sob o travesseiro.
            Sua face estava serena, como a dormir o sono dos justos, ou satisfeito após o desejo saciado.
            E ela em pé ao lado da cama a observar aquele homem com a face tão serena.
            Seu coração lhe dizia que o amava, mas quem  era ele?  Onde o conhecera?
            Em algum lugar do universo os dois haviam se encontrado, tinha plena convicção disto.
            Sentiu frio e um impulso de deitar-se ao lado daquele homem.
            Os pés estavam gelados. Olhou e viu estar descalça.
            Resolveu aconchegar-se nas cobertas.
            O homem se mexeu e passou o braço sobre ela.
            Ela sentiu o calor dele em seu corpo.
            Beijou o braço que pesava em seu peito.
            Quem é este homem, por que estou aqui, e por que me sinto tão bem, tão relaxada?
            Amo este homem, é isso?  Quem é ele?
            De onde o conheci?  Por que esta paz que há tanto tempo não sinto?  Por que seu corpo me aquece, me dá tranqüilidade?
            Em que profundezas do universo nos encontramos?
            O calor do homem a faz recordar da noite em que passaram juntos, os beijos, as carícias, os sexos se encontrando num desejo que fora reprimido, mas que explodira como uma louca paixão.
            Deixou-se levar pelo devaneio com o seu corpo sendo aquecido por ele que, no seu repouso, qual um menino, ficara na mesma posição, só com um braço sobre ela.
            E a paz reinou em seu coração.
            Nisso, o relógio, programado, bateu as seis horas.
            Sobressaltada, acordou.
            Havia sido somente um sonho.
            Maura Soares
            Aos 20 de maio de 2010 – 5.05h, madrugada.

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