quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

VENTO SUL

            Ainda ontem soprava o Nordeste, a varrer nuvens de um lado a outro.
            Hoje o vento sul chega e com ele o frio e a promessa de boa pesca.
            Nossos pescadores, nossos manezinhos, cujos ancestrais vieram das plagas lusitanas, aguardam as tainhas grandes, gordas, grávidas com suas ovas, delícia da gastronomia que sua mãe as fazia fritas, crocantes, delícia disputada pela imensa prole.
            O vento sul chega e traz o frio neste outono que já vai em meio --- no mês de maio ---mês dedicado às mães, às mulheres.
            Mês que moçoilas --- umas sim, outras nem tanto ---casadoiras (que termos arcaicos!!!) fazem promessas de amor aos seus amados e juntos, diante do padre ou do pastor, declaram seu amor “pra sempre”.
            “Sempre” --- de onde surgiu esta palavra, pois que o “sempre” não existe no universo do amor?
            O que existe é o aqui e o agora, é o viver o dia a dia.
            Ninguém vive para sempre a não ser pelas obras que deixa, que perduram ao longo das existências dos que ficam --- filhos e netos --- se houverem, perpetuando a obra “para sempre”.
            E o vento sul chega nesta madrugada a deixar a esperança no coração do pescador para uma nova safra.
            Dependendo da quantidade pescada, virará manchete nos jornais.
            Dependendo de quem ficou na vigília sobre uma pedra no Pântano do Sul, por exemplo, virá excelente cardume.
            E o vento sul sopra de leve na madrugada a despertar a mulher que, se puder, voltará a dormir por mais uma hora, talvez, ou pegará a caneta e escreverá estas linhas num exercício diário fomentado por pensamentos que viajam ao encontro do amado.
            Ontem sentiu dor no braço direito. O que será isto, pensou, não fiz esforço!?
            Ah, lhe disseram, é o vento sul, não tens uma platina por causa do acidente?
            O que? Então é isso?
            Mas a dor passa, pois não fica ruminando...
            E o vento sul sopra trazendo, quem sabe, a promessa de um encontro, carregando, quem sabe, os pensamentos do ser amado que um dia disse “vou te visitar” e “juntos nos completaremos na dança do amor”.
            E o vento sul sopra, devagar, embalando as emoções.
            “Vento, velho vento vagabundo”, do poeta Cruz e Sousa.
            “Vem vento, vem, vem do mar”, de Osvaldo Melo.
            “Vento que assanha os cabelos da morena”, de Caymmi.
            Ah, vento, como a mulher anseia pelo amado que não chega, como a mulher se debate na cama à espera da promessa...
            E o vento sopra de madrugada e ela espera como o pescador o “lanço” da tainha que virá para alimentar muitas bocas; ela espera com sua boca ávida de desejo de pousar nos lábios do amado o beijo carregado como as redes que trazem, das marés, o Amor e que elas venham, como o vento, cheias de alimento pro pescador.
            E o vento sopra e ela já desperta para mais um dia, faz a contagem regressiva do encontro, ela espera como o pescador ilhéu sobre uma pedra a divisar o alimento.
            Aqui, na areia da praia, ela recebe o vento que trará o AMOR para alimentar seu ser desejoso do carinho do amado, desejo das carícias, desejo da companhia...
            E o vento sul sopra na Ilha, na bela Ilha e ela espera...
            O vento...
            Maura Soares
            Aos 4 de maio de 2010, 05.45h - madrugada

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