quinta-feira, 3 de março de 2011

Como este espaço também é dedicado aos amigos, eis mais um amigo, desta feita nativo de Portugal, que se integra. Com carinho, postaremos, vez ou outra, trabalhos dele.


O REGISTO DO TEMPO(*)
Eugénio de Sá (**)

  
E tu, que te vestes de vencedor
e te sentas, orgulhoso, na cadeira do tempo;
- sorri-te hoje no rosto o olhar triunfante
outrora alapado aos ponteiros do relógio.
Não consideres, sobranceiro,
este vitorioso mas fugaz momento
como o alcance da eternidade.
A tua egocêntrica apoteose
não te confere a imortalidade.
O tempo, esse, não passou por ti;
- tu é que passaste dentro dele,
numa relação tão insignificante
como a de um minúsculo grão de areia
que se esgueira ao sopro da mais ligeira brisa
p’lo tronco derrubado, inútil e vazio
de um carvalho ancestral.
Tu só serás, realmente, grande
se souberes aproveitar bem o teu tempo.
O registo desse tempo pouco conta
se teus os objectivos forem mesquinhos.
P’lo contrário;
quanto maior for a tua disponibilidade
para com o teu semelhante
tanto maior será a verdadeira e perene riqueza
da tua humanidade espiritual.
Quanto mais tolerante e solidária for a tua acção,
tanto mais tu vivenciarás, no teu pequeno espaço,
o registo do tempo.
E nele ficará, então, indelevelmente marcada
a tua breve passagem nesta vida.

(*) no Brasil, leia-se “registro”.
(**) Poeta português, o mais novo amigo que está, a partir de agora, colaborando com seus trabalhos, neste blog. Sê bem vindo, Eugénio.

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