sábado, 12 de março de 2011

Eis novamente Emanuel, preocupado com a sustentabilidade.


SUL DA BAHIA: PARAÍSO AMEAÇADO

                  EMANUEL MEDEIROS VIEIRA         

     Queria falar sobre uma viagem pelo interior da Bahia, no carnaval, rodando quase 2000 quilômetros. Neste relato, vou concentrar minha meditação no belo Sul do Estado, mais especificamente, à região cacaueira (cuja geografia literária, conheci  aos 20 anos, lendo os romances de Jorge Amado, como o belo “Terras do Sem Fim”).
     E é exatamente essa linda região que está sendo ameaçada.
     O Sul da Bahia é caracterizado por seu enorme patrimônio ecológico – paisagens de valor histórico e espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção.
     Neste lugar especial é que está sendo preparada a instalação do Complexo Porto Sul, com graves impactos, conforme denúncias de mais de 90 organizações da sociedade civil, que já assinaram um manifesto pelo desenvolvimento sustentável e contra a referida obra.
     A região do empreendimento é parte da Área de Proteção Ambiental da Lagoa Encantada e Rio Almada, com manguezais, dunas e restingas e espécies raras da fauna e flora, locais que seriam gravemente afetados.
     A área onde se prevê construir o complexo tem uma importância planetária no que tange à sua mega-biodiversidade, como observa a Rede Sul da Bahia Sustentável, que tem se mobilizado contra o  empreendimento .
     É reconhecida pela UNESCO como reserva da Biosfera da Mata Atlântica e foi objeto de narrativas de importantes naturalistas – tais como Von Martius, Von Spix e Charles Darwin – que descreveram a região, constatando sua beleza natural, sua rica biodiversidade e os recifes de coral lá presentes.
     Estudos mostram que há alternativas menos impactantes e mais eficientes em termos econômicos, sociais e ambientais.
     Além disso, atividades como o cacau, o turismo ambiental e a pesca – que são economicamente viáveis e de baixo impacto socioambiental –, valorizam a vocação da região.
     O porto oferecerá poucos empregos, exigindo a contratação de mão de obra fora da região, promovendo o crescimento desordenado e caótico das cidades e vilas.
     A cultura do cacau é responsável   por mais de 50% de toda a riqueza produzida no Sul da Bahia e emprega cerca de 200 mil pessoas.
     Muitos empreendedores plantam cacau em meio à Mata Atlântica, com impacto mínimo na floresta.
     Só a região no entorno de Ilhéus, possui uma das maiores frotas pesqueiras da Bahia, empregando mais de sete mil pessoas.
     A região também vem se tornando um pólo relevante de tecnologia e produção científica – atividades que, por suas características não trazem impactos ambientais.
     O turismo baseado no modelo de desenvolvimento sustentável, tem  papel fundamental no combate à pobreza.
     O Sul da Bahia é um dos destinos mais importantes do Brasil, graças à natureza exuberante e ao patrimônio histórico.
     A Bahia não merece tal Porto.
     Itacaré é um dos lugares mais bonitos do litoral brasileiro. O local também será afetado.
     Deixo para outra meditação: o governador quer trazer a todo custo uma usina nuclear para a Bahia.
     Às vezes, penso que o Apocalipse está nos nossos calcanhares.
     Alguns não percebem, outros ironizam e debocham de tais reflexões.
     O que está em jogo é a vida. Sim, a vida.
     Quando a maioria dos seres humanos descobrirem a Besta, poderá ser tarde – muito tarde – para a salvação.
   (Salvador, março de 2011).

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