segunda-feira, 21 de março de 2011

HOMENAGEM À POETISA CECILIA MEIRELES

         CECÍLIA, A PREFERIDA

            Caderno de Notas, poemas, pensamentos, autores consagrados, outros desconhecidos à época, mas que me tocaram.
            Anos 70 – ainda guardo ali os poemas piegas que escrevi para extravasar a timidez que me habitava e, da qual me livrei só um pouco.
            Thiago de Mello, Geir Campos, Manuel Bandeira, Pablo Neruda (ah, este Pablo já me enlouquecia!), Charlotte Brontë, Paulo Mendes Campos, Tarcisio Marchiori, Walmir Ayala...
            Inicio o caderno com Thiago de Mello, “Quero dizer teu nome, Liberdade, quero aprender teu nome novamente para que sejas sempre em meu amor e te confundas ao meu próprio nome. Deixa eu dizer teu nome, Liberdade, irmã do povo, noiva dos rebeldes, companheira dos homens. Liberdade, teu nome em minha pátria é uma palavra que amanhece de luto nas paredes. Deixa eu cantar teu nome, Liberdade, que estou cantando em nome do meu povo”.
            Apropriado texto para a abertura do caderno que iria acolher tantos sentimentos e, no decorrer do tempo, o espaço para registro dos meus tímidos poemas.
            Vivíamos os anos da ditadura militar  brasileira e os autores que falassem em liberdade não eram bem quistos, como nunca foram os poetas que resolviam denunciar as atrocidades impingidas ao seu povo e o faziam em foema poesia.
            E Cecília? Ah, Cecilia Meireles, minha preferida!(foto)
            Ela comparece em algumas páginas do Caderno de Notas.
            Por ela nutro até hoje um quê de cumplicidade. Até hoje, se estou à janela à noite a admirar a lua ou, simplesmente, a observar o movimento na avenida e sentir a brisa, é o seu canto que lembro:
            “Antes do teu olhar, não era,
            nem será depois – primavera.
            Pois vivemos do que perdura,
            não do que fomos.”
            (5º.Motivo da Rosa)

            “Quero fazer da vida
            uma canção de otimismo,
            dos que se cantam
            de mãos dadas.”
            (Poema da Vida)

            “Alta noite, lua quieta,
            muros frios, praia rasa.
            Andar, andar, que um poeta
            não necessita de casa”.
            (Canção da alta noite)

            “Ando à procura do espaço
            para o desenho da vida.
            Em números me embaraço
            e perco sempre a medida.”
            (Canção excêntrica)

            “Eu canto porque o instante existe
            e a minha vida está completa
            Não sou alegre nem sou triste:
            sou poeta”.
            (Motivo)

            Seu “Romanceiro da Inconfidência” serviu de roteiro para a peça dirigida por Odilia Carreirão Ortiga, encenada no SESC pelo Grupo dos 20, daquela instituição.       Pertenci ao Grupo e fui uma das personagens cuja peça recebeu o titulo de “Arena conta Tiradentes”.
            “Atrás de portas fechadas
            à luz de velas acesas
            entre sigilo e espionagem
            acontece a Inconfidência”.
            (cit. pág.197 em diante, publicada na obra Flor de Poemas)
            A Revista Cult dedica um dossiê sobre Cecília por ocasião das comemorações do centenário de seu nascimento dessa doce e sofrida mulher.
            Cecília nasceu em 07 de novembro de 1901 e faleceu em 09 de novembro de 1964 (observem, mesmo mês de nascimento e morte!).
            Deixou um acervo de 30 livros, 10 dos quais, póstumos. Conferências sobre literatura e arte, pronunciadas no Brasil e no exterior, fazem parte de seu acervo, além de inúmeras cartas a escritores e artistas brasileiros e estrangeiros; 5 peças de teatro que escreveu na década de 40 e mais as traduções de autores ocidentais e orientais, contos de Tchekov, Tagore, poetas hebraicos e israelenses. Mais, muito mais o dossiê citado, escrito por Leila V. B. Gouvêa, apresenta.
            Não daria neste espaço em que homenageio aquela que me influenciou com seus poemas, discorrer sobre tudo o que ela fez.
            Cecília publicou suas crônicas no Jornal Folha de São Paulo de 1920 a 1964, antes de seu falecimento, num total de 2.500.
            Publicou seu 1º. Livro aos 18 anos, em 1914, “Espectros”, esta obra consta como desaparecida.
            Nasceu no bairro do Estácio, zona marginal do centro do Rio de Janeiro.
            Sua vida foi marcada pelas perdas profundas desde a infância com a falta do pai e da mãe, tendo sido criada pela avó Maria Jacinta Benevides, açoriana, personagem recorrente em sua obra.
            No início da década de 1920 casa-se com o ilustrador português Fernando Correia Dias e com ele teve 3 filhas, 3 Marias: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda.
            Sua avó falece em 34 e seu marido comete suicídio em 35, no dia 19 de novembro (de novo, novembro), em casa, enquanto as filhas se preparavam para os festejos do Dia da Bandeira.
            Assim diz Cecília sobre o suicídio de seu companheiro:
            “Há muitas mortes por detrás dessa morte. E não foi apenas um suicídio: foi também um assassinato. Posso eu viver muito tempo; pode minha existência tomar os mais inesperados rumos – mas essa noção da inutilidade humana; esta indiferença pela esperança, este desapego da lógica farão de mim cada vez mais uma criatura sem raízes na terra, prescindindo de tudo e à mercê dos casos que a queiram transportar”.
            Este texto consta de carta ao amigo português, poeta Diogo de Macedo.
            Estes dois episódios de perda marcaram profundamente sua vida. A partir daí dedica-se a uma outra Cecília, aquela que mergulha na poesia e na educação, nos seus escritos, nas suas conferências.
            Em 1940 casa-se com Heitor Grillo, torna-se editora da revista Travel in Brazil, uma publicação do governo do Estado Novo, tempo de Getulio Vargas.
            Viaja aos Estados Unidos, India e descreve estas viagens em diários.
            Durante a década de 60 já com o câncer a corroer seu físico, dedicou crônicas às curas, à medicina e às enfermeiras que cuidaram dela.
            Sua imagem de olhos profundos, seus escritos, seu legado de poetisa, artigos acadêmicos, cartas, ainda precisam de um estudo mais apurado. Há muita coisa ainda a revelar.
            Cito apenas os tópicos da vida de Cecilia Meireles, neste espaço, só para registrar minha admiração por esta mulher extraordinária que sublimou suas dores e as transformou em Poesia.    
             Maura Soares, aos 22 de março de 2011.
            (Fonte de apoio: Revista Cult, n.51, Ano V, outubro de 2001, pág.41 e seguintes)


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