sexta-feira, 1 de abril de 2011

O livro que me inspirou esta crônica--capa ao lado- está sendo vendido pelo site agbook. O autor, Edweine Loureiro mora em Tokyo e está, com a venda, ajudando as vítimas de seu país de adoção. Comprei o livro e, podem crer, estou amando.

PARAQUEDAS

            Solto no ar, o paraquedas.
            Preso às suas cordas, o homem.
            Ao ver o chão se aproximar, sente um frio na espinha.
            O alvo marcado com um círculo vermelho, mais e mais visível.
            Decidira naquele dia fazer o voo, digamos assim, inaugurando o novo paraquedas todo equipado; no capacete uma câmera acoplada para filmar tudo e depois poder enviar a amigos e relatar a experiência.
            Solto no ar, na sua “queda” solitária, sentiu como a vida é efêmera; solto no ar viu-se qual menino no galho da árvore do quintal de sua infância e pediu para alguém tirá-lo de lá; sentiu novamente as lágrimas rolarem por sua face a clamar pela mãe ou pelo pai.
            No dia a mãe, aflita, pedindo que se acalmasse; o pai ameaçando bater-lhe pela ousadia em subir sozinho num galho tão alto, sem alguém por perto para ajudá-lo a descer.
            E o menino preso ao galho ao ver o chão tão longe, conseguir após a colocação de uma escada, descer da árvore na qual sua ousadia poderia ter saído caro.
            Agora ali estava ele, solto no ar, mais uma vez, só que desta vez não estava a mãe aflita e o pai severo e nem a escada para colocar os pés.
            O chão mais e mais perto.
            Perdido em suas divagações, o homem sentiu a situação, a realidade e deu-se conta de que tudo em sua vida ficara suspenso no ar; tudo dependia de sua decisão em fincar os pés, em criar raízes, coisa que não se atinha com muito esforço.
            Agora, ali o alvo para ele cair dobrando primeiro os joelhos por causa do impacto; as mãos firmes a direcionar as cordas do paraquedas; o vento  que começava a mudar de direção a impulsioná-lo fora do círculo.
            A decisão mais uma vez estava com ele: havia subido no ar por conta própria, tal qual no galho da árvore, agora teria que descer sem a escada, só com o foco no alvo, decidido a cumprir a meta.
            Despertou do devaneio. O chão apareceu como num segundo.
            Fincou definitivamente os pés no chão. Caiu decididamente onde havia programado: o centro do circulo vermelho.
            A partir daí havia finalmente decidido a sua vida.
            Maura Soares
            Aos 01 de abril de 2011, 07.30h, crônica inspirada na capa do livro “Clandestinos”, de Edweine Loureiro.

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