terça-feira, 14 de junho de 2011

A propósito de concurso on-line de poesia, em que surgem poetas dos quatro cantos e nos alegram com suas presenças.

A CASA CAIU
SEXTO CONCURSO ON-LINE DO GRUPO DE POETAS LIVRES
RELATÓRIO

            Desde a fundação do Grupo de Poetas Livres, em 1998, tem-se procurado realizar concursos numa forma de revelar os talentos que estão por aí, muitas vezes, sem publicação.
            Como o Grupo promove e publica os vencedores, estes de uma forma ou de outra estão tendo visibilidade com suas produções.
            Na publicação do GPL, a Revista Ventos do Sul que já está no seu número 36, publicará os poemas vencedores dos três concursos deste primeiro semestre de 2011: dois do Projeto “Liberte-se...nas Asas da Poesia”: um com o Presídio Regional de Tijucas, na 7ª. edição e o 1º. com o Complexo Penitenciário de Florianópolis. Este Projeto é destinado única e exclusivamente para os internos dos presídios.
            O Concurso, objeto deste Relatório, feito através da Internet, já utilizou outros temas como “Guerra e Paz”; “Água, fonte de vida”;  “A Paz na minha aldeia”; “Uma história de Amor – em tempo de Paz”; “Trovas ou Quadras  - Maria da Anunciação Pereira”;  e outros promovidos com os colégios, rádios e padarias da Capital e da Grande Florianópolis, com  temas os mais diversos, procurando exercitar a capacidade dos participantes e tem recebendo boas obras em todas as edições.
            Neste concurso com o tema A CASA CAIU, cuja expressão é muito usada no jargão policial, a presidente inspirou-se em texto escrito por um dos associados do Grupo, Neomar N. B. Cezar Júnior e o tem como padrinho e participante da comissão avaliadora.
            É muito difícil julgar trabalhos de outras pessoas, sobretudo na área em que se milita. Em todas as reuniões de avaliação de poemas invocamos trecho de autoria do Juiz de Direito, aposentado, e acadêmico da Academia Catarinense de Letras, João Alfredo Medeiros Vieira, de família tradicional de Florianópolis com o título -  “A Prece de um Juiz”, traduzida em mais de 40 idiomas, da qual extraímos o seguinte texto e o lemos antes de analisar os trabalhos dos concursos:

(...)“Que o meu veredicto não seja o anátema candente e sim a mensagem que regenera, a voz que conforta, a luz que clareia, a água que purifica, a semente que germina, a flor que nasce no azedume do coração humano. Que a minha sentença possa levar consolo ao atribulado e alento ao perseguido. Que ela possa enxugar as lágrimas da viúva e o pranto dos órfãos. E quando diante da cátedra em que me assento desfilarem os andrajosos, os miseráveis, os párias sem fé e sem esperança nos homens, espezinhados, escorraçados, pisoteados e cujas bocas salivam sem ter pão e cujos rostos são lavados nas lágrimas da dor da humilhação e do desprezo, AJUDA-ME, SENHOR, a saciar a sua fome e sede de Justiça.”
(...)
“AJUDA-ME, SENHOR! Quando me atormentar a dúvida, ilumina o meu espírito, quando eu vacilar, alenta a minha alma, quando eu esmorecer, conforta-me, quando eu tropeçar, ampara-me.”
“E QUANDO UM DIA finalmente eu sucumbir e então como réu comparecer à Tua Augusta Presença, para o eterno Juízo, olha compassivo para mim.”
“Dita, Senhor, a Tua sentença.”
“Julga-me como um Deus.”
“Eu julguei como homem.”

            E julgando como homens, passíveis de erro, a Comissão Avaliadora do 6º Concurso On-Line “A Casa Caiu”, formada por Eunice Leite da Silva Tavares, Licinho Campos, Maura Soares e Neomar Narciso Borges Cezar Júnior recebeu 45 (quarenta e cinco) participantes com 62(sessenta e dois) textos entre poesias e pequenos contos.
            O Concurso foi veiculado na internet de 01 a 31 de maio de 2011.
            Ficaram como finalistas os seguintes internautas: Marta Trevisol:“Sobrevivência”; Nathalia da Cruz Wigg: “A casa era amarela”; Robson Soda: “O aprendiz”; Edson Luiz Maurici: “Morro do Lamento”; Anizio Oliveira Amorim: “A casa caiu”; André Telucazu Kondo: “Alicerce”; Cristina dos Santos Gusmão: “Alma lavada”; Antonio Kachuki: “Andarilho”; Amélia Marcionila Raposo da Luz: “A casa caiu”; Sofia Barão: “Nos arredores do coração”; Geraldo Trombin: “Cisma sísmica”; Marcelo Maio Coelho: “Outono”; Paulo Franco: “O ruir das horas”;  Maria Teresinha Debatin: “A casa caiu”; Ana Esther Balbão Pithan: “Antes que a Terra caia...”; Sebastião Bonifácio Junior: “Refúgio”; Perpétua Amorim: “Ruínas”; Maria Valéria Revoredo: “Correnteza”; Edweine Loureiro da Silva: “Terremoto”.

CLASSIFICADOS:
1º. Lugar: PERPÉTUA AMORIM, São Paulo
RUINAS

Quase nada restou do branco caiado
Nas fortes paredes do velho sobrado
Nas rachaduras expostas:
(feridas do tempo)
Crescem avencas e teias de aranhas
Brotam suspiros, vermelhos  e azuis
Os musgos avançam rumo ao telhado.

Subindo as paredes do antigo sobrado
O vento reclama através das janelas
Gemidos se libertam das pedras frias
No assoalho solto, ouvem-se os passos
Da dança ritmada com melodia
Dos risos alegres, dos beijos ardentes
Da vida que há tempos, ali existia.

Quase nada restou do sótão esquecido
Prisão dos meus medos
Ainda hoje, vejo no que restou da janela
Uma moça tristonha, chamada Maria.
Quase nada restou do velho sobrado.
A não ser minhas fantasias.
(Perpétua Amorim)

2º. Lugar: MARIA VALÉRIA REVOREDO, São Paulo
CORRENTEZA

De repente tudo se vê com lágrimas nos olhos
E tudo se mostra bem maior do que supomos
O nada se parece com o vazio do que perdemos
E a dor é morte, e desaba tudo o que criamos

A boca cala – estarrecida –
Cada palavra que não se explica
E que se vai n´água das chuvas

E tudo o que podemos
É correr... Buscar a Fonte
E – no dizer da própria pele –
Nos expressar sentidos
Pedir misericórdia

Porque a casa cai como se desmancha um laço de fita
Mas a esperança...Ah! A esperança!
Esta sempre fica.
(Maria Valéria Revoredo)

3º. Lugar: EDWEINE LOUREIRO DA SILVA – Saitama – Japão
TERREMOTO

Furiosa,
Ó Terra,
Tremes.

(Temo!)

Faminta, devoras.

Forte, ignoras.

Fatal, apavoras.

Até que te acalmas.
E, em meio a gritos,
Vultos e lutos,
Leva almas
Para teu seio.

(Receio!)

Pois sei
Que, uma vez mais,
Despertarás.

Presenteando ao Mar
O que restou de meu lar.
(Edweine Loureiro da Silva)

MENÇÃO HONROSA: PAULO FRANCO, São Paulo
O RUIR DAS HORAS

Na lembrança, qual um palco imaginário,
o cenário de coisas que vivi,
algumas pessoas, cães, carinhos que não foram percebidos
por entre as metáforas não entendidas
enquanto a vida era apenas uma ordem.

Na desordem da natureza do tempo que nos deteriora,
perdemo-nos um pouco a cada instante
e ainda à caça da felicidade para um futuro distante
sem vermos que não vemos nem mesmo o momento seguinte.

A casa a ruir abriga-nos dos sonhos que detemos
em cada quarto que nos prende
a render-nos às nossas verdades e imaginários
e em cada um a quarta parede cai
desvendando um cenário de expectativas
desperdiçadas no que não sentimos no agora
que se esvai
como se fosse a lembrança
daquilo que jamais existiu.
(Paulo Franco)

MENÇÃO HONROSA: ANDRÉ TELUCAZU KONDO, São Paulo
ALICERCE

palavras desmoronadas
verbos destelhados
artigos caídos
adjetivos estilhaçados
espalhados pelo chão de substantivos
nada mais faz sentido
ante o tsunami de traições e mentiras
a casa caiu
arrastada pela ilusão 

sobrou apenas o alicerce
sobre o qual são erguidos sonhos
que depois são levados
pelas expectativas humanas
efêmeras construções do homem: paixões 

a casa caiu
restou o lar
restou o alicerce
...só restou o amor.
(André Telucazu Kondo)

MENÇÃO HONROSA: NATHALIA DA CRUZ WIGG, Rio de Janeiro
A CASA ERA AMARELA

Cinzas de sonhos se espalham
Nos olhares vagos das crianças
Que brincavam no quintal

As bonecas estão amputadas
Os carrinhos, sem rodas
O Natal, sem presente

A casa caiu depois da enchente

A terra soterra quando a água castiga
A água castiga os que punem a Terra?
Mas eram só crianças em suas primaveras
A natureza está em guerra, na Terra, na serra
Enquanto a dor berra diante das cinzas

A mãe não sabe onde jogar as cinzas
Sombras vagam
Sonhos não acordam mais
Descansam em paz

Decidiu fazer uma ampulheta
Cuja areia será feita de restos mortais
(Nathalia Wigg)

            Cidades dos internautas que participaram do Concurso “A casa caiu”: Ilha do Governador,RJ; Saitama, Japão; São Paulo,SP; Franca,SP; Florianópolis,SC; Ribeirão Pires,SP; Caraguatatuba,SP; Pirapetinga,MG; Rio de Janeiro,RJ; Paris, França; Americana,SP; Brasília, DF; São José, SC; Muriaé, MG; Balneário Camboriú, SC; Rio de Janeiro, RJ; Uruana,GO; Assis, SP; São José dos Campos, SP; Mongaguá, SP; Betim, MG; Frederico Westphalen, RS; Santo André, SP; Santo Amaro da Imperatriz,SC; São Paulo,SP; sem identificação de cidade o internauta Marcelo Coronato; Pato Branco,PR; Campo Grande,MS; São Pedro da Aldeia,RJ; Blumenau,SC; Paris, França; Paranaguá,PR; Pirapora, MG e Santa Cruz do Sul, RS.          
            A Comissão Avaliadora agradece a todos os internautas que prestigiaram o presente Concurso, desejando que continuem participando podendo, quem sabe os que não foram contemplados desta vez,  serem em futuro próximo, pois o Grupo de Poetas Livres no seu objetivo deseja apenas DIFUNDIR A POESIA E FAZER AMIGOS.

Este o Relatório.

Florianópolis, 06 e 07 de junho de 2011
Maura Soares – presidente do GPL
Em nome da Comissão.        
               

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