sexta-feira, 29 de julho de 2011


JARDIM DOS ESQUECIDOS

Perdido entre as folhagens,
o velho chapéu.
Ornado de flores, agora secas,
ele jaz fazendo companhia  a arbustos e
flores dos mais diversos matizes.
Sem sombra de dúvida,
Deve ter ornamentado  o rosto
e cabelos de uma bela jovem.
Ali ele está.
Imóvel.
Ficará à espera da moça ou alguém que o venha apanhá-lo
e cobrir-se do sol com ele.

Perto do chapéu, um livro de capa dura,
decorada em alto relevo.
Será o romance de um autor francês?
Será de Zola?
Quem sabe não foi também esquecido
pela dona do chapéu?

Começa a garoa do fim da tarde
e os dois esquecidos ali estão.
De repente uma lufada de vento move o chapéu
para perto do livro como que num desejo de protegê-lo
para não se molhar e estragar-se.
Mais uma soprada  de vento
e o chapéu cobre todo o livro.

A chuva começa fininha,
depois grossos pingos molham o chapéu
que sem se importar continua a proteger Zola.

Assim como começou,
a chuva amainou e o sol saiu detrás das nuvens.

Fim de tarde.

A iluminação começa a se processar.
Mais uma noite ao relento, pensaram os dois.

No jardim dos esquecidos, passos apressados.

É a moça que vem e leva Zola
e o chapéu a escorrer pingos de chuva.

MAURA SOARES, aos 29 de julho de 2011, 20.20h  

Um comentário:

  1. E que o chapeu continue a proteger os livros, fontes de Arte e Beleza, como este poema. Parabens, Poetisa, e obrigado por presentear-nos com as mais lindas flores: suas palavras.

    Saudacoes,

    Edweine

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