UM BANDONEON DENTRO DA NOITE
Em cada puxada do fole,
um grito de dor e de saudade.
O ritmo sincopado do tango
atravessa a espessa noite
e, como lâmina forte,
fustiga no peito apaixonado.
Carlos Gardel, Piazzolla...
A melodia conta amores perdidos,
corações dilacerados,
juras de amor não correspondidas,
lágrimas derramadas,
batom carmesim...
O bandoneon agita-se.
Os corpos suados entrelaçam-se
numa paixão doída,machucada.
Os corpos colam-se
na volúpia da música.
As bocas se procuram
ávidas, gananciosas...
O bandoneon marca o fim do ato,
no cansaço,
no suor,
no esgotamento...
no prazer.
Maura Soares, aos 26 de dezembro de 1999, 17.15h (ouvindo Piazzolla)
[In:Retalhos-contos, crônicas,poesias. Obra artesanal, 2001]
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