domingo, 17 de junho de 2012

O FILHO DO VENTURA


Maura e João Soares Ventura  
O FILHO DO “VENTURA”

   Tenho procurado, ao longo do meu exercício como presidente de um grupo literário há mais de dez anos,  cumprir o que disse Nelson Cavaquinho em sua música: “Quem quiser fazer por mim, que faça agora. Depois que eu me tornar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais”.
   Pois bem, uma homenagem de um Partido Político a um militante de outro Partido que quase nada tem a ver um com o outro a não ser a oposição de esquerda, o mesmo símbolo usado, me cheira a falácia, a embromação, a querer “se aparecer” – como diz o nosso Mané - numa época eleitoral e eleitoreira neste ano de 2012.
  O PCdoB homenageou com uma placa de prata a Álvaro Soares Ventura, nas comemorações dos “90 anos do Partido”, em março de 2012.
  Explico. Pra mim o PCdoB não é o PCB, aquele em que sempre soube que  meu tio-avô militava. Pra mim PCdoB como diz o seu histórico “reorganizou-se em 62” e colocou um “do Brasil”, pra quê, se não era a mesma coisa? O Partido que conheci era Partido Comunista Brasileiro e este é Partido Comunista do Brasil. Por que não continuaram com a sigla antiga, seria mais coerente!
   O Partido que ofertou a homenagem ao meu tio-avô em março de 2012 se diz com 90 anos. Mais certo seria dizer o PCdoB faz 40 anos e não 90. Usa  o mesmo símbolo, a foice e o martelo simbolizando o operário e o campo?! “E faz parte de sustentação do governo Dilma!!!!” Campo, que campo, Cristo Santo, se não existe mais isto, pois não vejo militância no campo a não ser eventualmente os integrantes do Movimento dos Sem-Terra “orquestrados”, verdadeira massa de manobra, invadindo propriedades e lá ficam sem nada produzir e os operários, aqueles defendidos pelo Ventura, onde estão?
     Pra fazer história continuaram a contar a vida do PCdoB a partir da vida do PCB, é isto?
   Pois bem, como não entendi nada, me atenho a falar do primo que conheci rapidamente quando do lançamento do livro “Os comunas” do jornalista Celso Martins e depois, como o primo mora em Curitiba, sem contato com meus pais há muito tempo, somente neste ano de 2012, vim a conhecê-lo.
    João Soares Ventura, filho de Álvaro Soares Ventura, aquele comunista que Nereu Ramos não deixou que se despedisse de sua mãe no leito de morte, aquele comunista que trabalhava no Hospital de Caridade fazendo serviços para as freiras nas horas em que elas dele precisassem, muitas vezes nem perguntando se ele estaria cansado ou não!!! Aquele comunista que foi Deputado Classista da Constituinte, enfim, aquele comunista que “comia criancinhas”, mas era católico! E até ser perseguido e preso, as freirinhas  de mãos lisinhas do HC de nada sabiam!!
     Sim, é um texto com muitas exclamações e muitas interrogações.
    Justa a homenagem se o nosso Álvaro estivesse vivo, justa a homenagem se à época ele pudesse ter se despedido de sua mãe ficando essa coisa pendente em sua história pessoal.
    E eis que no mês de junho de 2012, no restaurante Lindacap, sou apresentada oficialmente ao meu primo João Soares Ventura. Se meu avô, Luiz Soares Ventura, não tivesse omitido o sobrenome Ventura em seus descendentes provavelmente meu pai teria o mesmo nome do primo, mas como meu avô preferiu colocar o nome do santo do dia, meu pai assinou-se João Auta Soares e o “Ventura” da linha do Luiz foi pro espaço.
    Então, e a Placa de Prata, afinal de contas, onde entra nesta história?
  Bem, outro primo, Fernando César Gomes Machado,  sobrinho-bisneto de Álvaro, foi à Assembleia Legislativa receber a honraria em nome da família.
   E agora, como entregar a honraria ao verdadeiro sucessor na linha direta?
  Mas Fernando é expert em informática e achou a parentada e assim, em junho nos encontramos para um almoço e nesse dia, um sábado, era dia de feijoada na Lindacap.
    Meu irmão Paulo e eu, fomos cumprimentar aquele senhor de 86 anos, com ideias a mil, bem falante, inteligente, palavreado solto bem ao gosto de quem não tem papas na língua. Paulo teve que ir a outro compromisso e fiquei com Fernando, o filho de João, Roberto e uma nora, Ivonete, na conversa que se estendeu às 4 da tarde. Celso Martins também teve que se retirar.
    Levei fotos de meu pai, do meu tio e padrinho Álvaro Felipe Soares, o texto sobre Ventura que coloquei no meu blog, o texto com os membros da minha família ( a do João Auta Soares) e dali em diante João foi contando causos que se lembrava de seu pai.
   Recebeu a homenagem que Fernando lhe entregou e sorriu, mas no fundo de seu coração deve ter pensado que a oferenda veio tarde demais, pois seu pai que havia sofrido tanto na prisão política, se escondido da polícia, ali não estava para posar para foto.
    Mas seus descendentes assim fizeram, num misto de orgulho e saudade.
   Embora tarde, merecida, pois Álvaro Soares Ventura, o “seu” Ventura, lá de onde está, sorri para aqueles que ficaram e lembrando do seu  nome, do que ele fez, no que ele acreditava, um Brasil sem exploração da mão-de-obra, um Brasil coerente, um Brasil pacífico, um Brasil onde não houvesse distâncias tão grandes entre as classes sociais.
   E assim o filho do Ventura sorriu, posou para fotos, abraçou e beijou seus “novos parentes e amigos”.
   Florianópolis, 16 de junho de 2012
   Profa. Maura Soares
   Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina - IHGSC
   Instituto de Genealogia de Santa Catarina – INGESC
   Academia Desterrense de Letras
   Grupo de Poetas Livres    

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