sábado, 2 de novembro de 2013


ADEUS, POETA!

Santa Catarina, o Grupo de Poetas Livres e a Academia Desterrense de Letras e São José de Letras, perderam mais um poeta, o Poeta das Cantilenas – Alzemiro Lídio Vieira – nascido em São José, em 1943.

Dono de uma possante voz, encantava a todos quando se apresentava nas reuniões e eventos do Grupo e nas academias e convidado por outras instituições, como o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, participando do Seminário Internacional das Ilhas do Atlântico e também por ocasião do centenário de morte de Cruz e Sousa, na sede do IHGSC, com membros do Grupo Armação, “Cruz e Sousa, o poeta da dor e do amor”.

Alzemiro, o nosso Cisne Negro, no seu poema Nova Visão,inserido na obra Mundo Neutro, cita: Olho longe o horizonte/ numa visão indefinida/ Sei que vou buscando a vida / Vou bebendo nostalgia/ do cálice da ilusão/.

Seu olhar não ficava só no horizonte. Seu pensamento, sua alma estavam sempre voltados para seus irmãos que sofreram e muitos ainda sofrem com a escravidão seja que conotação tenha nos dias atuais.

De profissão mecanógrafo, trabalhou na UFSC. Lá, teve reconhecido seu talento como poeta e artista plástico, participando de coletivas no hall da Reitoria. Seu livro, Mundo Neutro, teve o prefácio do crítico de arte Osmar Pisani, que viu em Alzemiro o talento também para a poesia. Na UFSC participou do Coral sob a regência do maestro José Acácio Santana.

Membro do Grupo de Poetas Livres desde o ano 2000, idealizou o Projeto interno com Adir Pacheco, O escritor e sua obra, até hoje apresentado pelos membros do Grupo, que consiste em apresentar biografias de escritores, e os espetáculos Poesia, Luz e Som; A utilidade da utopia; Tributo a Cruz e Sousa e Retina da Alma, este último apresentado dia 27 de junho de 2013, quando ainda lutava por sua saúde.

Apresentou-se nos Encontros com a Poesia, projeto do Grupo Armação em parceria com o GPL. Como ator do Grupo Armação apresentou-se na peça Eles não usam Black-tie, de Guarnieri, obtendo o Troféu Bastidores, idealizado por Valdir Dutra e por mim apresentado durante os 15 anos da premiação. Pelo Armação, também um Auto de Natal e a celebração a Cruz e Sousa, para o IHGSC, citado.

Sua biografia faz parte da Enciclopédia Literatura e Afrodescendência no Brasil – Antologia Crítica, editada pela UFMG, ao lado de grandes brasileiros, nas diversas áreas do conhecimento.

Na Academia São José de Letras ocupou a cadeira cujo patrono é Araújo Figueredo e na Academia Desterrense de Letras, o patrono é Ildefonso Juvenal que, como Alzemiro, também um poeta que incursionou pelo teatro de Florianópolis, como dramaturgo. Ildefonso é patrono de uma cadeira na Academia dos Militares de Santa Catarina.

Falar  de Alzemiro é falar da dor e do amor, tal qual Cruz e Sousa; é lembrar Castro Alves com seu belo poema Navio Negreiro, é sentir o lamento dos cativos nas suas cantilenas, é amar a poesia e dela fazer um canto de liberdade.

Em sua vida literária recebeu troféus, medalhas e diplomas. O mais recente, em 2012, foi o Troféu Manezinho, premiação idealizada por Aldirio Simões.

Seu talento é reconhecido por todos os militantes das letras catarinenses. Pena que o poder público pouco ou quase nada faz para homenagear a prata da casa.

Postumamente podemos dizer muitas coisas, mas o homenageado não estará mais ali para receber o elogio por seu  trabalho. Felizmente, o GPL está isento disto, pois soube sempre reconhecer a obra do poeta que, temos certeza, irá encontrar, na Pátria Maior, outros talentos como os dele e juntos entoarem o canto de amor e esperança.

Em seu poema Nave da vida auto-prefácio, inserido na Antologia dos 15 anos do GPL, diz: “Na travessia desse magro ciclo/ Não sou e jamais penso ser/ Um poeta definitivamente pronto/ Sou apenas um singular persistente/ Operário do ofício sacrossanto divinal/”.

Em “Não sou o fim do fim”, diz o poeta: Sou o fim da caminhada/ não o fim do caminho/ Sou taça quebrada/ não o fim do vinho.”

Adeus, poeta! O GPL e todos que cantam a dor e o amor te saúdam.

Profª Maura Soares
Presidente do Grupo de Poetas Livres

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Um comentário:

  1. Registro aqui...minha admiração e respeito pelo Poeta Alzemiro, sempre será lembrado , com carinho e saudades...
    vera portella

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